Desmistificando o Perdão

 Na complexidade da vida, um dos processos mais nobres e libertadores é o de perdoar, seja a si mesmo ou a outros, também um dos mais complicados e difíceis de entender.

O perdão não tem formula e nem definição consensual do que seja. Toda dificuldade de entendimento existencial, vem do fato de ser um processo interior, subjetivo, que a ciência dirigida pela razão, não consegue padronizar sentimentos, assim como reações comuns,  para equacionar esse evento. O fato é que: Só quem perdoa, sabe realmente e verdadeiramente que perdoou.

O perdão é um processo que envolve a vontade, espiritualidade, emoção, tempo, valores e sentimentos dualísticos. O interessante é que o processo envolve uma ou mais pessoas a serem perdoadas, que flui exclusivamente sob a égide de quem se propõe a perdoar.

Do ponto de vista individual, é uma grande oportunidade de evolução espiritual, revisão de valores, auto julgamento e de julgamento a terceiros, onde a dor, o sofrimento, a raiva, ódio e o Amor se apresentam por vezes incontrolados, gerando um clamor interno de se encontrar  “ordem no caos”, ou  equilíbrio e apaziguamento.

No momento que buscamos as causas das mágoas e decepções, percebemos o quanto nos colocamos como Juízes, um ser superior, colocando o outro na condição inferior espiritualmente, como réu – condenado sob as nossas leis e agora sujeito a boa vontade da nossa misericórdia, mas também despertamos para o nosso  “Eu”, que poderá  arbitrar em continuar colocando a responsabilidade de nossos sentimentos, emoções no outro, ou de assumir que tudo partiu de nossa expectativa, nosso imaginário, ou mesmo das nossas ações com “Amor Condicional”, não correspondido.

A reflexão que vem naturalmente é: “Como podemos julgar e condenar a terceiros por nos fazer sofrer,  sendo que nem conhecemos o universo e as intenções desse outro ser?”. Essa reflexão não é para servir de justificativa, mas de clareza mental, para conseguir autonomia para transmutar os sentimentos negativos.

O crescimento espiritual virá com base no Amor, para consigo e para com o outro, sem necessidade de explicações plausíveis, pois o Amor perdoa e liberta pela simples condição de não competência em julgar, mas pela compreensão de que cada ser humano tem uma bagagem histórica diferenciada e que a circunstancia que nos uniu, foi provocada por uma razão “Maior”. Deus em sua imensa sabedoria, realizou um dos eventos do  projeto divino e perfeito, ao promover o encontro dos seus filhos, mesmo que sem o entendimento dos mesmos, pelo menos no primeiro momento.

O tempo nos revelará parcimoniosamente o entendimento de cada situação vivida e servirá para fortalecer e vivenciar os futuros desafios positivamente. Ampliando os horizontes dessa reflexão, poderemos inclusive meditar, para saber o quanto estamos delegando o poder do modo de  viver nossa vida ao outro e o quanto estamos resgatando-o de volta.

Outra situação do perdão é quando temos a clareza que magoamos indevidamente alguém e experienciamos a sensação sublime de pedir perdão, assim ganhamos o benefício do Bem-estar, Alívio e Paz Interior. Para dizer verdadeiramente: “Me perdoe”, também existe um processo, no qual temos que arbitrar para avaliar o conceito de elevação espiritual; que para uns pode significar “fraqueza”, falta de empoderamento e para outros fortalecimento, verdade, humildade ascensional.

Ter consciência do poder do arbítrio, nos abre portas e janelas interiores, para assumirmos o poder pessoal sobre as emoções, nos posiciona no comando da forma que desejamos ser e estar neste mundo, em outras palavras, estaremos interagindo o tempo todo com pessoas e circunstancias, mas cientes que somos  guardiões, responsáveis pelo auto equilíbrio, estado emocional, psicológico e forma de encarar a Vida. Independentemente do que o outro faça, sou eu que permitirei ou não, alterar minha vibração, estado de espirito, equilíbrio interno, ao receber os impactos das experiências vividas. O caminho para se conquistar esse domínio é do autoconhecimento e o desenvolvimento espiritual.

Viver, conviver e amadurecer, ninguém é totalmente bom e nem totalmente ruim, a grande questão são as nossas expectativas de como agiremos frente ao novo, desconhecido e imprevisível, tendo clareza que não temos poder sobre o outro, mas que o arbítrio nos concede grandioso poder sobre a nossa Vida, com a possibilidade de expandir, rever conceitos, valores dualísticos, como Certo e Errado, Verdadeiro ou Falso, e mudar o  foco de visão, para possibilitar a apropriação de novos entendimentos.

Se Deus olha igualmente e indistintamente por todos nós, temos a possibilidade de vivenciar as experiências com um novo olhar, novas emoções, sem transitar pela dualidade e o sentimento de dor.

Quando tiver o sentimento, pensamento ou a emoção negativa, Pense, Sinta e diga: “Eu perdoo, Eu perdoo e Eu me perdoo”. Essas palavras podem ser poderosamente liberadoras e colocá-lo(a) em outra faixa vibracional mais elevada e tranquila.

Verdadeira e profundamente falando o perdão, tem etapas, uma delas é quando racionalmente desejamos perdoar e não conseguimos, a etapa seguinte é quando supomos que perdoamos e consideramos que está tudo resolvido, mas de repente uma nova situação traz a pessoa ou a circunstância de volta e ai percebemos que o nosso sentimento melhorou, porém ainda não houve a libertação. O perdão que nos liberta acontece normalmente, após essas etapas e de forma repentina, sem qualquer chance de intervenção da mente ou da razão, ficamos totalmente sob o domínio e  comando da vontade, dos sentimentos e da força do espirito, na expressão do Amor.

Recompensas e Impossibilidades

  O Amor transforma, transcende, realiza milagres. Existem vários tipos de Amor, o mais poderoso é o Amor Incondicional, que por mais paradoxal que possa parecer, é o que não se espera retorno pela vontade do praticante, mas retorna em forma de bençãos pela vontade divina.

O Amor não oferece e nem cobra recompensas. Apenas é Força Extraordinária que brota em quem Ama e faz do previsível impossível em factível.

O Sagrado não assumido pelas religiões

 Não existe uma única religião no Planeta que propague: “O homem e a mulher são Seres Sagrados”. 

Acredito  que todas as religiões deveriam ter essa premissa em comum, pois se assim acontecesse, trataríamos uns aos outros, tal qual são tratados os Santos, Anjos, Orixás, alguns animais, enfim os seres considerados divinos, dentro dos seus respectivos credos;  porém o que observamos no decorrer da história,  é uma acirrada competição, objetivando diferenciar as pessoas, pelo critério religioso. Se as religiões prioritariamente assumissem o ser humano como sagrado, a simples proposta já seria orientadora de comportamentos, por mais complexo e complicado que seria a prática, mas essa semente ao longo do tempo brotaria, cresceria e teríamos árvores, frutos e uma humanidade mais tolerante e em Paz.

Na escalada evolutiva planetária, em algum momento isso ocorrerá e toda humanidade se apropriará do sagrado em si e do universo, será o início de uma nova era, essencialmente vivida para a harmônia, cooperação, transculturalidade, convivendo-se sabiamente com as diferenças, para o progresso comum, sob a égide consciencial da unicidade.

Acredito que regredimos desse patamar evolutivo e precisamos reconquistá-lo para efetivamente ascender a novos degraus.

Esse salto quântico evolutivo do Sagrado em nós e do reconhecimento do sagrado fora de nós, será a direção ascensional espiritual de toda humanidade e estaremos dando os primeiros passos para transformar esse Planeta no Paraíso.  Nesse momento surgirá uma nova sociedade Terráquea, plena de Amor, de Fé, plenamente livre, sem necessidade de leis, dogmas, ameaças e hierarquias.

Na verdade está ao alcance de cada um a iniciativa transformadora, sem depender da boa vontade dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário ou Religioso, podemos avançar na mesma direção, reconhecendo o divino em nossos semelhantes, tal qual visualizamos  facilmente em: Jesus, Gandhi, Sidarta Gautama, Madre Teresa de Calcutá, Chico Xavier, RamaKrishna e outros.

A partir do que somos, podemos ir eliminando fronteiras do desconhecido e expandindo a nossa consciência para os portais de Sabedoria, onde o conhecido e o desconhecido estão harmonicamente integrados pelo Amor. Onde é perfeita e harmonicamente possível a indivisível multiplicação da soma das diferenças, nos elevando para uma consciência planetária cósmica, a qual já estamos inseridos, até atingirmos a sensação de sermos Cidadãos Planetários Universais.

Essa dimensão de consciência do Ser, estabelece que toda energia emanada, seja através de pensamentos, sentimentos ou atitudes, repercute não só no nosso espaço geopolítico, mas também por todo Universo e gera a responsabilidade de zelar pela qualidade de tudo que transformamos em energia, pois repercutirá em “Tudo” e em “Todos”. Essa constante qualificação do Ser, se chama jornada evolutiva.

A fonte criadora do Amor e da Unicidade nos conecta e faz brotar o sentimento de pertencimento a sagrada totalidade.